Os números envolvendo a indústria dos jogos eletrônicos, talvez, tenha mais a nos dizer sobre o cenário político do que possamos imaginar. Segundo levantamento feito pelo portal Prodview, o segmento conta com 70% da população online, ou seja, algo em torno de 84 milhões de usuários apenas no Brasil. O mercado de jogos no Brasil terá uma receita estimada em R$ 12 bilhões de reais em 2021, afirma Arthur Henrique do Olhar Digital. Um mercado que cresceu em torno de 140% durante a pandemia, aponta o Valor Investe . Importante lembrar que os games vão muito além do mero entretenimento. Segundo a pesquisadora, Gabriela Ramos, em dissertação apresentada ao programa de Pós-graduação e sociologia da UFRGS, atualmente, os videogames também são utilizados para o treinamento de algumas modalidades de trabalho, bem como para a reabilitação de pessoas com algum tipo de deficiência ou que necessitem de fisioterapia.
Em busca desse mercado e de potenciais eleitores, muitas campanhas políticas já estudam maneiras de alcançar esse público valioso. Seja por meio de pautas tributárias, como a redução dos impostos, seja criando atrativos dentro das próprias plataformas virtuais, ou ainda, buscando interações mais próximas ao mundo Gamer. Tudo indica que o encontro do mundo da política com o mundo dos games seja inevitável. Assim, as plataformas estão sendo cada vez mais usadas por políticos para conversar com os jovens.
Daniel Vila Nova, em sua coluna Gamarevista no Uol, lembra que o presidente americano Joe Biden criou um escritório virtual oficial da sua campanha no jogo “Animal Crossing”, disponibilizando, ainda, itens personalizados da candidatura dentro do game. A congressista democrata, Alexandria Ocasio-Cortez, reeleita em Nova York, viralizou jogando uma partida do jogo “Among Us” em uma live na Twitch. O evento teve uma das maiores visualizações da história da plataforma com mais de 5,5 milhões de visualizações, lembra matéria publicada pela Época, publicada em novembro de 2020.
Aqui, pelo Brasil, o segmento é disputado tanto por partidos ligados a esquerda como a direita. O caso mais emblemático ocorreu durante as eleições municipais de 2020. Candidatos com bom desempenho eleitoral, inclusive chegando ao segundo turno em grandes capitais, durante a campanha postaram nas plataformas transmissões ao vivo de partidas do jogo “Among Us” em companhia de influenciadores digitais na área de games.
Em exposição chamada “Games e Política” ocorrida no Centro Cultural São Paulo, em seu release de divulgação, lemos que, os jogos são reflexo da sociedade na qual surgem e ao mesmo tempo, têm efeito sobre essa mesma sociedade. Questões de gênero, trabalho, consciência democrática, vigilância do Estado, conflitos armados e refugiados, também estão presentes nos games digitais. Ao mesmo tempo, os games podem ser empregados para disseminar propaganda e ideologias. Da mesma forma que outras mídias, eles podem ser usados em prol de interesses políticos.
Se por um lado, muitos podem encontrar refúgio e entretenimento nos games, fugindo, em alguns casos, das disputas e polêmicas ligadas a política, por outro lado, o mundo político parece ter iniciado a caça em busca desse público que até então estava meio disperso e fragmentado. Talvez, a política acabe por influenciar, também, o ritmo e o fluxo de suas preferências partidárias para dentro das plataformas virtuais, aguardemos.
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Professor da Rede Estadual de Educação. Graduado em História e Filosofia pela UFRN. Mestrado em Filosofia Política, Pós-Graduado em Ensino de Filosofia e Literatura pelo IFRN.