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ÁUREA DE GÓIS: A ETERNA POETISA DE EXTREMOZ

Aldeia Altiva Sobre um verde espesso coqueiral, Vivia Extremoz Aldeia altiva, Respirando a essência primitiva, À margem da lagoa colossau.

Pareço vê-la a hora matinal, Despertando para a luta árdua e ativa. Índios descendo pra lagoa esquiva Onde fazem da terra  seu fanal.

E quando o som da inúbia, a lei ressoa, Repercutindo à beira da lagoa, Invocando, convocando o herói para lutar, O índio arco e flecha tendo à mão, Acompanha Felipe Camarão Em defesa da terra Potiguar. (Áurea De Góis)

O livro A História de Estremoz (1997) da Ir.A. Maria Dionice da Silva, um dos  mais importantes sobre a história de Extremoz é dedicado a poeta Áurea de Góis. Em 2006 a revista cultural Brouhaha da FUNCARTE (Fundação Cultural Capitania das Artes) veio até Extremoz conversar e entrevistar a poeta Áurea de Góis. Em 2013, o canal República das Artes publica uma bonita homenagem com a própria poeta recitando seu poema mais famoso: Extremoz, Aldeia Altiva. Em 2022, em caráter póstumo, a escritora e cordelista, Jussiara Soares, homenageia a poeta Áurea de Góis durante a 5ª edição da coletânea – dez mulheres potiguares. Recentemente a página Histórias de Extremoz publicou um vídeo em que é possível ver as ruínas da antiga casa da saudosa poeta.

Apesar desse notório reconhecimento no universo das letras, pouco se sabe sobre a vida e a história dessa poeta que escreveu sua história com, carinho, afeto e muita alegria.

Ao iniciar a pesquisa para esse artigo tive dificuldade de encontrar informações sobre o aspecto pessoal de “Dona Áurea” como era carinhosamente chamada pelos amigos e admiradores. Quando falamos da “Dona Áurea” a primeira lembrança que emerge é o seu famoso jardim. Muitos afirmam ter sido um dos mais lindos da região. “Dava gosto de ver” dizem. Outro elemento sempre presente nas memórias é o sorriso e a alegria com que recebia as visitas e recitava seus versos. “Tempo bom”.

Tentamos contato com alguns moradores mais antigos na cidade, com ex-funcionários da prefeitura, pessoas ligadas a família, parentes e vizinhos da antiga e famosa casa da poeta, cuja, a beleza do jardim ainda é motivo de saudosismo para quem conheceu a simpatia de “Dona Áurea” que passava muitas tardes recitando poemas para as visitas e para quem mais pedisse, em seu lindo jardim.

Gostaria de registrar e agradecer a ajuda da professora Gorette Barbosa (ex-secretária de cultura), que compartilhou, de forma carinhosa, um valioso acervo de memórias e documentos que subsidiaram esse trabalho. A colega Ednalva Nascimento com suas indicações de parentes e antigos conhecidos para podermos conversar e ter acesso a essas memórias, dos que tiveram o privilégio de conviver com essa mulher marcada pela inteligência e memória fabulosa. A professora Simone com as gentis e pertinentes indicações de onde e com quem contar. Estendo meus agradecimentos, também, aos antigos vizinhos que compartilharam um pouco de suas lembranças e do processo de abandono e destruição da antiga casa da poeta.

Áurea Soares de Góis, nasceu em Extremoz, no final do outono, mais precisamente no dia 27 de maio de 1914, em uma quarta-feira. Segundo os dados públicos disponibilizados no CNF Brasil (falecidosnobrasil.org.br), Filha de Joana Soares de Góis. Faleceu em 27 de fevereiro de 2016, aos 101 anos de idade, em um sábado.

Em publicação de 2006, assinada por Sheyla Azevedo, p, 73, (FUNCARTE) “Dona Áurea” compartilhou um pouco da sua vida privada e mostra bom humor ao falar das dores do passado e demonstra leveza ao lembrar dos episódios negativos. Como quando foi deixada pelo marido com apenas 34 anos e com duas filhas para criar (Jacira e Miriam). Afirma não ter ficado amargurada. “Mágoa mata amor”, dizia. Devota de São Miguel Arcanjo, a família não se importava que ele declamasse poesia. A familia até participava em algumas ocasiões. Lembra que durante as reuniões de família, sempre tinha muita animação pela casa, violão, piadas e claro, muita poesia. Entre os seus temas preferidos para prosear estavam a religião, as experiências da vida, e versos sobre seus familiares.

Uma curiosidade e que foi confirmada por todos que conviveram com a poeta é que ela também fazia poemas por encomenda. Não cobrava por eles. Atendia, inclusive, os pedidos em cima da hora. Será que alguém ainda guarda um desses tesouros literários atualmente?

Foi dito que, certa vez, ainda quando Extremoz pertencia a Cearamirim, ao saber que as imagens dos santos da igreja seriam transferidas para lá, sentou em frente à igreja e não arredou o pé até desistirem da ideia. Acabou impedindo a tal transferência.

“Dona Áurea” era autodidata. Aprendeu a ler e a escrever em casa. Seu caderno era a terra, o lápis um graveto qualquer e a borracha era o pé na terra. Quando perguntada sobre suas inspirações e o método para escrita, ela dizia simplesmente que “Os poemas vêm por si”. Apaixonada por poesia desde a juventude, mantinha na memória boa parte dos seus poemas. Sua arte era transformar sentimentos em letras.

Ao longo da vida escreveu muitos poemas, tinha um famoso caderninho de anotações, que guardava com muito cuidado. Nele tinha em torno de 50 poemas – infelizmente esses poemas nunca chegaram a ser publicados. Não se sabe o paradeiro desse caderno. Será que está em alguma gaveta aguardando para ser publicado e eternizar as memórias de “Dona Áurea” em definitivo? Ela chegou a dizer que gostaria de ver suas poesias publicadas em livro para que outras pessoas pudessem ler. Entre os autores que mais lia, citou Humberto de Campos, Álvares de Azavedo, Castro Alves, Palmira Wanderley, Manoel Bandeira, Vinicius de Morais, entre outros. Será que ainda veremos sua obra publicada?

Conversando com antigos moradores e vizinhos da antiga casa da poeta, hoje em ruínas, foi dito que a casa foi destruída e depredada, intencionalmente, por algumas pessoas. A casa tem duas entradas. A entrada principal ficou prejudicada com a chegada da linha férrea, sendo necessário construir uma segunda entrada na lateral da rua. O portão de madeira dessa segunda entrada permanece no local. Inclusive, hoje, a propriedade encontra-se a venda.

Extremoz, uma cidade permeada de história, lendas e poesia. Do azul do céu ao azul dos olhos da poeta Áurea de Góis. Celebrada e homenageada pelo meio cultural, reconhecida nas obras mais importantes da produção historiográfica de Extremoz, Áurea de Góis, não teve, ainda, seu trabalho devidamente reconhecido pelo poder público e parte da população. É uma divida que a cidade tem com essa verdadeira personagem das letras, do carinho, da saudade e do afeto que, precisa ser reparada. Não podemos deixar que a única memória da sua poesia sejam apenas ruínas.

Manuscrito original do poema “Extremoz, Aldeia Altiva” de Áurea de Góis.


Acima temos uma verdadeira relíquia, gentilmente cedida pela professora Gorette Barbosa. O manuscrito original do poema Extremoz, Terra Altiva, presente guardado com muito carinho e recebido das mãos da própria Áurea de Góis.

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