Abram alas para Edgard Moraes (1904 – 1974). Compositor, arranjador e violonista, o eterno folião, reconhecido General de Cinco Estrelas da Folia, nasceu em 1º de novembro, há 117 anos.
No centenário do seu nascimento, em 2004, foi instituído o Dia do Frevo de Bloco e, em sua homenagem, neste ano, a Fundação Joaquim Nabuco apresenta o documentário “A poesia de Edgard Moraes”, uma produção da Massangana Audiovisual que narra sua trajetória até os dias atuais, com o seu legado vivo no coral que leva o seu nome, criado em 1987 por suas filhas e netas.
O lançamento será realizado no próximo dia 12 de novembro, às 17h, no canal da Instituição, no YouTube.
“Em 2021, rendemos várias homenagens ao Frevo em suas diversas expressões. Não por acaso, o ritmo e manifestação cultural foi revalidado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Iphan, como Patrimônio Imaterial do Brasil. Às vésperas do desfecho do ano, não poderíamos deixar de celebrar também este homem, que de tão imenso, segue vivo nas tantas vozes do coral que leva seu nome, composto por suas filhas, netas e sobrinhas”, declarou o presidente da Fundaj, Antônio Campos.
Ao longo de sua vida, Edgard Moraes compôs cerca de 300 canções, em sua maioria marchas e frevos que embalaram o desfile de dezenas de blocos carnavalescos.
Dentre os diversos blocos que participou, Edgard figurou como fundador em pelo menos quatro deles: Pirilampos, Turunas de São José, Jacarandá e Corações Futuristas. Outro feito que imprime seu nome, foi a formação de uma banda de pau e corda.
Nela, violões, cavaquinhos, banjos, bandolins, tarol, surdo e até reco-reco passeiam por carnavais saudosos.
“Ele era autodidata. Foi uma pessoa muito bem relacionada entre grandes compositores, como o Maestro Nelson Ferreira, como Capiba e outros tantos de sua época”, aponta a filha Inajá Moraes, que participou da gravação da maioria de suas músicas, na Fábrica de Disco Mucambo, sob a regência de Nelson Ferreira. “Ele sempre tinha uma música para gravar e tocar no Carnaval”, destaca, ao recordar o desejo do pai de criar um coral.
Foi assim que a maioria de suas filhas iniciaram o que mais tarde se tornaria o Coral Edgard Moraes, que inclui também, além das netas, sobrinhas e bisnetas do compositor.
Sobre o ingresso de Edgard no universo da composição, Inajá revela que o genitor iniciou como uma homenagem.
“Meu pai foi uma pessoa que viveu e respirou muito o seu irmão Raul Moraes, sua grande inspiração quando se dedicou a compor. Uma de suas primeiras composições foi ‘A dor de uma saudade’, dedicada a ele”, conta.
Em sua intimidade, o músico reunia amigos – como os Irmãos Miranda (Romualdo, Lupércio e Nelson) -, aos fins de semana, para tocar choro, valsa e toada. Dentre suas atribuições pouco conhecidas, estão ainda composições de maracatu.
Memória em rotações
No acervo do Centro de Documentação e Estudos da História Brasileira (Cehibra), da Fundação Joaquim Nabuco, Edgard Moraes também está presente. São LPs, discos e partituras.
No álbum “João Santiago e os 50 anos do bloco Batutas de São José” (Rozenblit, 1982), um disco de cera de 78 RPM (rotações por minuto), lá está ele com a composição “Desacatando”.
Já ao lado do irmão e músico Raul Moraes (1891-1937), Edgard aparece no LP exclusivo: Glórias do Carnaval de Pernambuco (Rozenblit, 1974).
Para Elizabeth Carneiro, assistente em Ciência e Tecnologia da Fonoteca do Cehibra, o favorito é o frevo de bloco “Valores do Passado”, também em um disco de 78 RPM.
“Ele é um dos frevos mais bonitos e cantados até hoje no Carnaval. Esta música inspirou a criação do Bloco da Saudade e a letra faz menção a todos os blocos líricos que desfilam no Recife”, conta. Na letra: Bloco das Flores, Andaluzas, Cartomantes, Camponeses, Bloco Um Dia Só, Pavão Dourado, Camelo de Ouro, Bebé.
“Nos Anos 1920, estes eram blocos carnavalescos mistos, compostos de mulheres e homens com fantasias glamourosas em um ritmo mais lento. Marca a presença feminina no Carnaval de Rua, embora dentro de um contexto moralizante. Esses blocos eram separados da plateia e do furdunço da rua por cordões. Um Carnaval que fez parte do cotidiano histórico e social do Recife e que foi resgatado nas letras cheias de saudade de Edgard Moraes, Nelson Ferreira, João Santiago e tantos outros”, contextualiza Elizabeth.
Atualização de acervos
O documentário que será disponibilizado no YouTube integrará também o acervo do Cehibra. Para a coordenadora, Albertina Malta, o interesse em ampliar os recursos e formas de documentar novos acervos é valioso.
“Recolher depoimentos e novas impressões, registrar memórias de pessoas que conviveram com titulares que a gente já tenha dentro dos arquivos, como é o caso de Edgard Moraes. Esse acesso a estas pessoas e personagens que revivem e difundem o trabalho do músico é muito importante”, afirma.
“A Fundação faz também esse trabalho de produzir também memórias, de produzir também acervos novos. No momento em que ela desenvolve pesquisas e novos registros, ela está produzindo novos conhecimentos a partir do seu próprio acervo. Ela atualiza e colabora com a difusão dos acervos que já existem com novas abordagens e olhares, tanto pelos seus pesquisadores quanto por pesquisadores externos”, conclui Albertina, que registra a frequência de estudantes de Música na Fonoteca do Cehibra.
Serviço
Lançamento do documentário “A poesia de Edgard Moraes” Data: 12 de novembro Horário: 16h No canal da Fundaj, no YouTube
FOTO: CEHIBRA – FUNDAJ