Imagine Extremoz sendo cantado,
Sem o apito do trem que vai chegar.
Imagine esse verso sem ser rimado,
Sem ter no refrão Estrela do Mar.
(Manuel de Azevedo)
A obra Breviário Ferroviário é o mais novo livro do poeta, escritor e músico Manuel de Azevedo. Lançado recentemente pela editora Serrote Preto Edições, nele, o poeta nos empresta seu olhar para acompanharmos de perto um pouco de suas vivências, dentro do trem, durante quase seis meses, se deslocando entre Natal e Extremoz. Os poemas foram produzidos, em sua maioria, dentro do trem, durante o deslocamento, até a terra do grude, para lecionar a disciplina de língua portuguesa na Escola Estadual Almirante Tamandaré.
Esse final de semana batemos um papo com o autor que nos contou um pouco sobre como foi a gestação desse primoroso trabalho. Morador do bairro de Candelária em Natal-RN, Manuel, nos conta que sua mãe é de Extremoz e também professora. Explica, ainda, que teve a ideia de escrever o primeiro poema para o livro na estação primeira, localizada no bairro da Ribeira. O livro apresenta cinquenta poemas de estilos bastante variados como Sonetos, Trovas, Monósticos, Dísticos, Tercetos, Haicai, Quintilha, Sextilha, Poemas Livres, entre outros.
Os poemas foram escritos entre os meses de fevereiro e agosto desse ano. Ao longo das nove estações que compõe o trajeto – iniciando no bairro da Ribeira, em natal, até o conjunto Estrela do Mar, em Extremoz. O olhar do poeta transformou situações corriqueiras do dia-a-dia, como o simples hábito de tomar um café e comer uma tapioca molhada no leito de coco, em versos que nos convidam a se inspirar e apreciar as muitas belezas e riquezas, históricas e culturais, da cidade de Extremoz, como é possível observar no belo Soneto Extremozense.
Ao pensar que estava voltando para Extremoz, em fevereiro desse ano, para exercer o magistério – como sua mãe – escreveu a Trova “A Sina Ensina” que abre de forma singela a obra:
Rio de minha existência,
Desaguar na mesma foz.
Materna coincidência,
O magistério e Extremoz!
(Manuel de Azevedo)
Manuel, explica que qualquer lugar é lugar de escrita e que toda hora é hora de fazer poesia. Escreveu nas praças, na quadra da escola, na sala dos professores, no Shopping, nas estações e também nas inspiradoras Ruínas da antiga igreja, ouvindo o trem de longe. Poesia no trem e poesia nos trilhos. Entre as principais temáticas abordadas no livro, está a alma ferroviária sempre presente no bairro Estrela do Mar, como diz um trecho do poema; lugar onde os pomares são eternos poemas.
Muito original e inovador a ideia de transformar em poesia o percurso feito diariamente por milhares de pessoas nos vagões do VLT ao longo das nove estações até Extremoz. O que para alguns poderia ser apenas mais um dia de trajeto ao trabalho, nos olhos atentos e sensíveis do poeta se transformaram em sonetos, trovas e monósticos. O que mostra a diversidade no estilo poético e a riqueza literária presente na obra. O livro está disponível no formato digital e é gratuito. Para adquirir basta entrar em contato com a editora pelo e-mail: serrotepreto@hotmail.com
Uma obra obrigatória para todos os amantes da história de Extremoz e aos que são sensíveis a seus encantos inspiradores e a sua geografia poética. Por fim, uma obra que vem preencher uma grande lacuna literária na rica e vasta história de Extremoz. A obra termina deixando um gosto na boca de saudade com o poema “Só”:
Fim de linha,
Desço do trem…
Ninguém na estação!
(Manuel de Azevedo)